sexta-feira, 9 de maio de 2008

Heresia. Arianismo (Séc. IV)

O Arianismo se substanciou em uma das maiores heresias que a Igreja precisou confrontar ao longo dos séculos.

Arius, presbítero de Alexandria, sustentava uma visão Cristológica de que Cristo não era Deus e sim uma criatura feita por Deus, mesmo que a mais sublime, mas ainda assim uma criatura destinada a ser instrumentos para a criação de outros seres. Negava, portanto, a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, que os igualasse, transformando Cristo pré-existente uma criatura como todos nós.

Junto com essa teoria, Árius também afirmava que Deus seria um grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que, dessa forma, nenhuma criatura conseguira ou seria capaz de revelá-lo, haja vista que Ele não pode revelar a si mesmo. Dentro dessa linha de raciocínio, o historiador H. M. Gwatkin afirmou em seu livro The Arian Controversy (A Disputa Ariana): "O Deus de Ário é um Deus desconhecido, cujo ser se acha oculto em eterno mistério”.

Nos parece estranho pensar que Jesus Cristo não participava da essência divina, contudo, era exatamente isso que Árius pregava em sua seita herética. O verbo era apenas uma criatura, a mais sublime delas, mas uma critura
Ao mascarar sua heresia usando uma terminologia ortodoxa ou semi-ortodoxa, ele foi capaz de semear uma enorme grande confusão na Igreja e, assim, conquistou o apoio de inúmeros Bispos e a rejeição de outros tantos.

No ano de 318, vendo a confusão que Arius, ou Ario, estava causando, o Bispo local chamado Alexandre, de Alexandria convocou e reuniu um Sínodo local, que contou com cerca de cem Bispos, que, conjuntamente, condenaram a doutrina de Ário e dos seus seguidores. A decisão advinda desse Sínodo foi comunicada a outros tantos Bispos, inclusive ao Papa São Silvestre.

A heresia não foi contida pelo Sínodo pois Ário continuou com suas pregações e as conversões às suas idéias herética foram se tornando numerosas.

A heresia ariana foi oficialmente condenada no ano 325 pelo Primeiro Concílio de Nicéia, convocado por Constantino e que contou com cerca de 300 Bispos e dois presbíteros representantes do Papa Silvestre. Esse Concílio, por sua vez, definiu a divindade de Cristo e no ano 381 pelo Primeiro Concílio de Constantinopla, o qual definiu a divindade do Espírito Santo. Desses dois Concílios surgiram o Credo Niceno que são recitado nas Missas Dominicais.

As discussões no Concílio de Nicéia foram longas e agitadas. Ao final, os padres conciliares redigiram o Símbolo de Fé de Nicéia, que afirmava ser o Filho Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não feito, consubstancial (homoousios) ao Pai; por Ele foram feitas todas as coisas.

Surgiu um sério conflito ideológico entre Arianismo e o Trinitarismo, que se tornou dominante desde então. Essa foi a primeira grande dificuldade doutrinal na Igreja Católica, após a legalização do Cristianismo pelo imperador Constantino I e a sua elevação a religião oficial do Império Romano. Percebendo que as disputas entre os cristãos poderiam causar uma ruptura política interna no Império, Constantino adentrou ao interesse estritamente religioso e, politicamente, determinou que o arianismo estava errado, que este era uma heresia, julgando assim contribuir para manter a coesão política do império, embora mais tarde viesse a aderir a ele, tendo sido batizado por um bispo ariano antes de morrer. Lembre-se que, a determinação de Constantino foi política e, portanto, tratou-se de uma visão do Estado que tinha interesses únicos e exclusivos de manter a unidade e a ordem social. Sabemos, obviamente, que uma heresia só pode ser considerada como tal, no âmbito religioso, quando a autoridade eclesiástica competente assim a declara.

Constantino convocou o Concílio de Nicéia, contudo a convocação dependia da autorização e aceitação da autoridade eclesiástica que, vendo a situação em que a heresia estava imersa, resolveu dar seu aval para a convocação de Constantino. Não reverberam, portanto, tantas acusações que surgem, nos dias atuais das interferências que, possivelmente, Constantino teria praticado junto à Igreja.

Ao longo da história, muitos reis e rainhas opinaram junto à Igreja sobre questões temporais e espirituais que achavam pertinentes e assim continuam hoje os presidentes, primeiros-ministros e outros chefes de Estado. Não significa, entretanto que o Papa está sujeito a aceitação de todas esses opiniões.

Consideramos importante essa observação feita acima uma vez que pessoas de má-fé, durante toda a história desde o surgimento da Igreja, imputam que a autoridade eclesiástica estava sujeita à autoridade estatal, passando a nítida impressão de que a Igreja estava se sucumbindo a interesses meramente temporais e deixando o lado espiritual de lado.

A negativa é contundente. Sempre que o Estado interfere em questões religiosas, o faz unilateralmente por motivo de ordem pública e interesses políticos. Nos dias atuais temos dificuldade em firmar essa visão uma vez que não temos mais uma religião oficial do Estado. Sendo assim, o Estado não deveria ter interesse em assuntos religiosos. Naquela época era o contrário. A unificação religiosa era vista como a unificação dos povos, algo muito mais importante naquele momento histórico do que agora. Assim, era de profundo interesse do Estado que a religião se mantivesse coesa e, por isso, várias interferências estatais foram feitas sem, contudo, significar que contavam com o apoio ou mesmo a curvatura da Igreja.

Em um determinado momento do conflito doutrinário, o Arianismo ganhou força e influência junto à família do imperador e nobreza imperial, e porque Ulfila, (missionário enviado pelo Imperador Romano do Oriente) foi o apóstolo junto aos Godos, convertendo-os ao cristianismo sob a forma herética ariana. Os Ostrogodos e Visigodos vieram à Europa ocidental já cristianizados e plenamente convertidos, contudo incultados na heresia ariana.

Entretanto, visões semelhantes e em alguns casos revivificação do nome, ocorreram desde a oficialização da heresia e do heresiarca entre elas o Nestorianismo. Os "Testemunhas de Jeová", por exemplo têm esta crença, assim como os Unitarianos.
A igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecidos como Mórmons, também prega a separação entre Deus que é pai, Jesus Cristo que é filho literal na carne e Espírito Santo que é o que testifica aos homens as coisas de Deus. De acordo com a regra de fé (1º Cremos em Deus, o Pai Eterno, e em Seu Filho, Jesus Cristo, e no Espírito Santo.) Joseph Smith Jr o primeiro profeta dessa igreja teve uma visão na qual viu Deus e Jesus Cristo lado a lado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembrando que este tal profeta que viu Jesus ao lado de Deus foi no meio do mato.

Deus me livre julgar, mas o que aquele homem tava fazendo no meio do mato, meu Deus?!?!?!


Este seu texto é maravilhoso e foi-me extremamente útil. Posso agora entender mais sobre a fé (e história) da minha amada Igreja!